Investigadores apontam corrupção no caso da JBS. Cheques a Henrique Alves e esquema envolvendo coronel complicam situação do peemedebista
Em sua primeira viagem internacional, Temer foi paparicado. Hoje, foge de entrevistas na Rússia
Em sua primeira viagem internacional como presidente da República, realizada em setembro de 2016, Michel Temer ainda curtia sua lua de mel com a mídia brasileira, à época ainda seduzida por sua chegada ao poder. Ao desembarcar em Moscou, capital da Rússia, nesta terça-feira 20, o quadro mudou drasticamente: até o momento, o peemedebista tem recusado falar à imprensa.
Motivos não faltam. Na noite da segunda-feira 19, a mídia divulgou que a Polícia Federal apontou indícios de crime de corrupção passiva cometidos por Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no inquérito aberto com base nas delações da JBS.
Além disso, investigações relacionadas a importantes aliados de Temer, como o ex-deputado Henrique Eduardo Alves e o coronel João Baptista Lima Filho, aumentam ainda mais a pressão sobre o peemedebista.
Entenda o que pesa por ora sobre Temer, de acordo com a Polícia Federal, e as investigações contra Henrique Alves, beneficiado por dois cheques de 500 mil reais intermediados pelo peemedebista, e Lima Filho, amigo de longa data do atual presidente.
Corrupção passiva no caso da JBS
O relatório parcial da Polícia Federal relacionado às investigações contra Temer no âmbito da JBS foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal na segunda-feira 19. A PF pediu mais cinco dias de prazo para encerrar a apuração.
De acordo com os relatos da mídia, ainda não foram concluídas as partes do inquérito relacionadas aos crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça, pois a perícia dos áudios gravados pelo empresário Joesley Batista, um deles a registrar comprometedora conversa com o atual presidente sobre a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador Lúcio Funaro, ainda não foi concluída.
O relatório dos investigadores baseia-se em laudos relacionados a duas conversas gravadas entre Ricardo Saud, lobista da JBS, e Rocha Loures, além da análise do vídeo em que o ex-deputado é flagrado enquanto carregava uma mala de 500 mil reais na saída de um restaurante em São Paulo.
O valor, de acordo com a delação, refere-se a uma das parcelas de propina relacionada à suposta atuação de Loures sobre os preços de fornecimento de gás pela Petrobras à termoelétrica EPE. A manobra teria rendido 5% de desvios para o grupo liderado por Temer.
Cheques da OAS e da JBS
Enquanto deve responder por uma denúncia de corrupção relacionada ao seu atual mandato, Temer coleciona diversos dissabores com seus aliados. Na segunda-feira 9, A Globo News teve acesso à cópia de um cheque de 500 mil reais depositado por Temer em nome do ex-deputado Henrique Eduardo Alves em 2014, quando esse último era candidato ao governo do Rio Grande do Norte.
De acordo com o Ministério Público Federal, o valor, pago pela empreiteira OAS, veio de propina e passou pela conta do então candidato à vice-presidente.
Além do cheque da empreiteira, Henrique Alves também recebeu, de acordo com a reportagem da Globo News, um cheque de 500 mil reais da JBS por intermédio de Temer. Embora os procuradores não se manifestem sobre a origem lícita ou ilícita dos recursos, o valor indica ao menos que a relação entre Joesley e Temer estava longe de ser "institucional", como o atual presidente afirmou em meio à divulgação dos áudios da JBS.
Coronel João Baptista Lima Filho
Amigo de longa data de Temer, João Baptista Lima Filho tornou-se outra dor de cabeça para o peemedebista. O coronel entrou no radar da Lava jato após Ricardo Saud contar aos procuradores em sua delação que, na campanha de 2014, mandou entregar milhões de reais a Lima Filho "conforme indicação direta e específica de Temer".
Documentos apreendidos no escritório do amigo de Temer fizeram surgir a suspeita de que Lima Filho era encarregado de resolver pendências financeiras da família presidencial. Segundo relatos da mídia, foram encontrados no escritório do coronel comprovantes de pagamento e recibos de despesas de familiares e também do próprio peemedebista.
Nesta terça-feira 20, reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" revelou que documentos da Junta Comercial de São Paulo mostram o vínculo entre o coronel e um contrato de 162 milhões de reais investigado pela Lava Jato.
Em 2012, foi assinado um contrato entre a AF Consult, criada por Lima Filho a partir de sua empresa Argeplan Arquitetura, e a Eletronuclear para a elaboração de projetos eletromecânicos na usina nuclear de Angra 3. O acordo está paralisado desde agosto por suspeita de irregularidades levantadas pelo Tribunal de Contas da União.
O contrato está em um pacote de oito acordos no qual, segundo o Ministério público, houve pagamentos de propina a Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, preso em julho de 2015 e condenado a 43 anos de prisão.
Segundo a "Folha de S.Paulo", os documentos da Junta comercial apontam que a AF Consult do Brasil foi criada pela Argeplan, de Lima Filho, e foi subcontratada pela AF Consult da Finlândia para a execução do contrato.
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