As negociações entre o Irã e os
governos de seis grandes potências mundiais sobre o polêmico programa
nuclear de Teerã serão prorrogadas até o fim de junho de 2015. O prazo
foi estabelecido após uma rodada de negociações realizada em Viena nesta
segunda-feira não conseguir chegar a um acordo definitivo sobre o tema.
Os
chanceleres britânico, Philip Hammond, e russo, Sergei Lavrov, disseram
que um grande progresso foi feito nos debates de hoje.
No ano
passado diplomatas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, China,
França e Alemanha chegaram a um acordo preliminar para interromper o
enriquecimento de urânio no Irã em troca da redução das sanções
internacionais que recaem sobre o país.
Hammond afirmou que os
países voltarão à mesa de negociações em dezembro e o acordo final deve
ser atingido até 30 de junho de 2015.
O
Irã diz que seu programa é pacífico, para a produção de energia, e
rejeita as acusações de que o objetivo é a construção de armas
nucleares.
Veja abaixo os pontos principais da crise com o país, que já dura quase 10 anos.
Quais as razões da crise?
As potências mundiais suspeitam
que o Irã não tem sido honesto sobre seu programa nuclear e trabalha
para adquirir a capacidade de construir uma bomba nuclear.
O Irã afirma que tem o direito à energia nuclear - e garante que o seu programa é apenas para fins pacíficos.
Por que a crise se arrasta há tanto tempo?
O programa nuclear do Irã veio a
público em 2002, quando um grupo de oposição revelou atividades até
então secretas, incluindo a construção de uma usina de enriquecimento de
urânio em Natanz e um reator de água pesada em Arak. O urânio
enriquecido pode ser usado para fabricar armas nucleares, e o
combustível de um reator de água pesada contém plutônio apropriado para
uma bomba.
Posteriormente, o governo iraniano concordou em
inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da
ONU responsável pela vigilância nuclear.
Mas a agência não
conseguiu confirmar as afirmações do Irã de que seu programa nuclear é
exclusivamente para fins pacíficos e de que não tem como objetivo
desenvolver armas nucleares.
Isso levou os EUA e seus aliados
europeus a pressionarem o Irã a suspender o enriquecimento de urânio -
que pode ser usado tanto para fins civis como para construir bombas
nucleares.
No entanto, a eleição do presidente Mahmoud
Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações, e a
AIEA levou o Irã ao Conselho de Segurança da ONU, por descumprir o
Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Desde então, o Conselho de
Segurança adotou seis resoluções que exigem que o Irã suspenda o
enriquecimento de urânio. Algumas delas impuseram sanções.
Em
2012, os EUA e a União Europeia começaram a impor sanções adicionais às
exportações de petróleo e bancos iranianos, um duro golpe à economia
local.
Apesar disso, o Irã continuou a enriquecer urânio. Em 2009,
o país revelou a existência de uma nova instalação subterrânea em
Fordo.
Houve várias rodadas de negociações entre o Irã e o chamado
P5+1, grupo que reúne os cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU - EUA, Reino Unido, França, China, Rússia - e a
Alemanha.
Por anos não houve avanço. Mas o cinco meses depois,
após conversas bilaterais secretas entre EUA e Irã, negociadores
acertaram um acordo interino.
Qual foi o acordo?
Sob o Plano de Ação Conjunta,
que entrou em vigor em janeiro de 2014, o Irã efetivamente concordou em
congelar sua produção de urânio enriquecido com pureza acima de 5% e
comprometeu-se a diluir ou converter em óxido seu estoque de urânio
enriquecido a quase 20%.
O Irã disse que não iria instalar novas
centrífugas de urânio ou construir novas instalações de enriquecimento. O
país também concordou em não alimentar o reator em Arak e não construir
uma instalação para reprocessamento de combustível.
Enquanto a
maior parte das sanções internacionais - incluindo medidas que atingem
os setores de petróleo, bancário e financeiro do Irã - foi mantida, o
P5+1 concordou que o Irã repatriasse cerca de US$ 4,2 bilhões em
receitas de vendas de petróleo congeladas em contas externas.
As
vendas de produtos petroquímicos, negociações em ouro e outros metais
preciosos e transações com empresas estrangeiras envolvidas da indústria
automotiva iraniana tiveram autorização para serem retomadas. A
expectativa era de que essas medidas gerassem receitas de US$ 1,5
bilhão.
O Irã também recebeu acesso a US$ 400 milhões em dinheiro
para pagar a mensalidade de iranianos estudando no exterior, comprar
peças de reposição para aviões civis e alimentos e remédios de ajuda
humanitária.
Por que suspeita-se do Irã?
O líder supremo do Irã, aiatolá
Ali Khamenei, declarou em 2009: "Nós rejeitamos fundamentalmente as
armas nucleares e proibimos a utilização e produção de armas nucleares".
Mas
a AIEA publicou um relatório em 2011 alegando ter informação de
"credibilidade" de que o Irã teria realizado atividades "relevantes para
o desenvolvimento de um dispositivo explosivo nuclear".
O relatório destacou um complexo militar em Parchin, ao sul de Teerã, que a AIEA não visita desde 2005.
Os
EUA alegaram que o Irã tinha um programa de armas nucleares em 2003 mas
que os principais líderes iranianos interromperam-no quando ele foi
descoberto.
Em setembro de 2014, a AIEA disse que o Irã não
conseguiu explicar questões da investigação sobre detonadores que
poderiam ser usados para disparar uma arma nuclear, e também explicar
estudos que poderiam ser relevantes para o cálculo do rendimento
explosivo de uma arma nuclear.
O Irã também continuava a recusar a entrada de inspetores em Parchin, disse a agência.
O Irã realmente conseguiria construir uma bomba se quisesse?
As opiniões são divergentes
quanto a isso. O secretário de Estado americano, John Kerry, disse em
uma audiência no Senado em abril de 2014 que o Irã teria capacidade de
produzir urânio para uma bomba nuclear em dois meses, caso o país
quisesse.
No entanto, Kerry disse que isso não significaria que o
Irã já tivesse uma ogiva. Isso foi antes da AIEA ter confirmado, em
julho, que o país havia convertido todo o seu estoque de urânio
enriquecido a 20% em formas que apresentassem um risco menor de
proliferação.
Especialistas do Instituto para Ciência e Segurança
Internacional, sediado em Washington, advertiram em um relatório de
setembro de 2013 que qualquer processo de fabricação de bombas seria
feito secretamente. Assim, estipular prazos era extremamente difícil.
Na
verdade, especialistas prevêem há décadas que o Irã esteja à beira de
construir uma bomba nuclear. Apesar da AIEA ser capaz de monitorar a
quantidade de urânio, é difícil avaliar as competências relativas dos
cientistas envolvidos na pesquisa nuclear e bélica.
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