O escândalo da NSA, a agência de espionagem americana, paralisou várias negociações entre Brasil e EUA.
Desde a revelação de que a NSA espionava a presidente Dilma Rousseff e a
Petrobras, o que levou ao cancelamento da visita de Estado que a
presidente faria a Washington em outubro, uma série de iniciativas
empacou.
O piloto do programa Global Entry, que permite a entrada facilitada de
1.500 empresários nos EUA, estava prestes a ser assinado e, por ordem do
governo brasileiro, foi para a geladeira.
O acordo de Previdência está pronto, mas não foi assinado. Assim como o
firmado com o Japão, permitiria que brasileiros morando nos EUA
contassem seus anos de contribuição para uma aposentadoria brasileira, e
o mesmo para americanos aqui. Segundo o Itamaraty, as dificuldades
estão no lado americano.
"O ritmo passou de morno para morto", disse à Folha um envolvido nas
negociações. "Está tudo parado". "Tanto EUA quanto Brasil estão
irritados", disse um diplomata americano.
A Folha apurou que o secretário americano de Agricultura, Tom Vilsack,
afirmou em agosto a interlocutores brasileiros que os EUA estavam
prontos para abrir mercado para a carne bovina brasileira. O Brasil
tenta há anos exportar carne bovina in natura para os EUA (só entra
carne industrializada).
Vilsack disse a integrantes do governo brasileiro que a "regra proposta"
para a abertura do mercado seria publicada pouco antes da visita de
Dilma. Depois da publicação da "regra proposta", é feita uma consulta
pública e aí é permitida a venda.
"Eles estavam prestes a anunciar a abertura do mercado para a carne
bovina, mas agora não sabemos o que vai acontecer", diz Pedro Camargo
Neto, ex-presidente da Abipecs, associação de exportadores de carne
suína.
As reuniões do Diálogo de Energia e Diálogo de Defesa, em outubro, foram
canceladas. O mesmo ocorreu com o Fórum de CEOs (diretores-executivos
de empresas dos dois países). A parceria em comunicações e tecnologia da
informação empacou. "O acordo não vai sair, ainda mais incluindo
segurança cibernética", diz uma fonte.
"Há desgaste no relacionamento tanto aqui quanto lá, embora haja um
esforço para controlar danos", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil
Institute do Wilson Center.
O ex-embaixador americano no Brasil Thomas Shannon disse a
interlocutores que deixou o país em setembro "muito desgostoso", por
causa da "despedida inadequada" que recebeu.
Além disso, autoridades americanas acreditam que Dilma está se aproveitando do problema para atacar os EUA e ganhar votos.
Já os brasileiros não viram contrição suficiente por parte dos EUA, que
teriam sido mais enfáticos em seu pedido de desculpas à chanceler alemã,
Angela Merkel, também espionada. "E a questão não vai desaparecer
--ainda há milhares de documentos que devem fazer referência ao Brasil",
diz Carl Meacham, diretor do Centro Américas no centro de pesquisas
CSIS.
O Itamaraty afirmou que os acordos estavam sendo negociados em ritmo
acelerado por causa da visita, mas, com a suspensão, apenas se "perdeu o
senso de urgência".
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