Os testes feitos pelo Ministério das Comunicações com a rádio digital
não foram satisfatórios por apresentarem, ainda, alcance inferior ao do
sinal analógico. Apesar disso, novos testes estão previstos para tornar
real o desejo de qualidade manifestado nesta segunda-feira (8) por
representantes de rádios públicas, privadas e comunitárias, durante
audiência pública na Câmara dos Deputados.
Entre 2010 e 2012 foram feitas 11 baterias de testes em sete emissoras,
informou o diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação de
Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações,
Octavio Penna. “Foi constatado que o sistema analógico ainda tem um
alcance maior do que os apresentados pelos dois padrões digitais [DRM e
HD Rádio], tanto com o uso de receptores profissionais como com o de
receptores comerciais, o que revela preocupação”, disse o diretor.
Penna, no entanto, acrescenta que o resultado pode ter sido
influenciado por “diferenças nas características técnicas dos
equipamentos enviados pelos fabricantes”. Segundo ele, o comportamento
dos equipamentos “ficou aquém do esperado, mas pode melhorar”. Por isso,
novos testes deverão ser feitos pois nas reuniões do conselho de rádio
digital, “foi manifestado consenso” no sentido de garantir pelo menos a
mesma cobertura entre padrões analógico e digital.
“Estamos buscando emissoras aptas a novos testes, o que será
fundamental para darmos segurança de que [a rádio digital] é factível”,
disse Penna. Entre as emissoras que participarão dos testes está a Rádio Nacional de Brasília, uma das emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
“Queremos fazer testes em situações [envolvendo ambientes] comuns à
realidade brasileira, como o espectro congestionado de São Paulo”.

“A rádio é meio estratégico para o Brasil, especialmente pelas
dimensões territoriais e pelo perfil sócioeconômico da população, pois a
rádio ainda é o único meio de comunicação para boa parte do país”.
Castro destacou o papel das rádios AM e de Ondas Curtas (OC), por
“apenas elas” atenderem determinados segmentos da população, em especial
das áreas rurais e isoladas.
O diretor da EBC ressaltou os impactos sociais e
econômicos que decorrerão da escolha do padrão a ser adotado, e que,
para isso, será fundamental uma política industrial focada na produção
de receptores a preços acessíveis e com multibandas.
“Serão necessários receptores de baixo custo e capazes de receber todas
as frequências. [Para chegarmos à melhor escolha] será necessária
também a participação da indústria nacional e dos centros de pesquisa, a
exemplo do que aconteceu com a TV digital”, acrescentou.
Relatório feito pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e
Informática da Câmara concluiu ser o sistema HD Rádio o mais adequado
para a implantação no Brasil. Entretanto, acrescenta o relatório, não é
aconselhável que as emissoras fiquem restritas a uma única tecnologia.

“A Arpub se sentiu incomodada ao ver que boas e importantes discussões
do conselho não foram incorporadas ao relatório. Causa estranheza que
muitas coisas colocadas pela EBC e pelo ministério não
tenham sido colocadas”, disse ao se referir a elementos contidos nas
análises dos testes e relativos a política industrial, inovação
tecnológica e prestação de serviços.
“Apesar de o padrão não ser o principal foco, ele leva em consideração
um modelo de negócio que influenciará a política industrial”,
argumentou. A entidade também defende que todas as frequências sejam
digitalizadas.
Membro do Conselho Político da Associação Mundial de Rádios
Comunitárias (Amarc), Taís Ladeira defendeu que o projeto de
digitalização “tem de ser visto como uma política pública”, devido ao
potencial de democratização que possibilitará, por viabilizar a
multiprogramação.
“A escolha do padrão vai muito além da questão tecnológica e da
indústria nacional. Por isso criticamos a ausência da academia dentro do
conselho. O assunto pede debates mais focados e aprofundados e
preocupação com o papel social do rádio no Brasil. Não é possível
desconsiderar as rádios AM e OC. Rádio é espaço de atuação política,
social; de organização social. É a comunicação social garantindo outros
direitos”, disse. Ela pediu também maior participação do Legislativo nas
discussões promovidas pelo conselho.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert)
defende que o sistema não se limite a apenas um padrão, a exemplo do que
concluiu o relatório da comissão na Câmara, segundo informou sua
gerente de Tecnologia, Monique Cruvinel Strassburguer.
A entidade considera positivos aspectos como transferência tecnológica,
utilização eficiente do espectro, diversidade de modos de configuração,
transmissão de dados auxiliares, custo reduzidos, democratização dos
meios de comunicação, inclusão social e expansão do setor em busca de
novos modelos de serviços e negócios.
“Mas não vamos avançar sem que resolvamos a questão da cobertura”,
disse Monique referindo-se às limitações técnicas apontadas pelos testes
feitos até o momento. Segundo ela, é necessário incentivar indústria no
que se refere a transmissão, recepção e serviços.
Ela aponta como “próximos passos” a serem dados pelas autoridades a
definição do padrão, das características técnicas e jurídicas das
rádios, além dos aspectos regulatórios da transmissão, de linhas de
crédito e de dar celeridade aos processos sob responsabilidade do
Ministério das Comunicações e da Anatel, no sentido de “higienizar o
setor”.
A representante da Abert avalia que, na área de produção de conteúdo,
será necessária a capacitação de profissionais, principalmente para os
novos serviços que devem advir da definição de modelos e do ambiente de
convergência que deve surgir. “Mas o ponto principal será a recepção.
Não haverá rádio digital se não abraçarmos a recepção, o que ainda foi
feito de forma superficial”.
A rádio digital brasileira terá influência também na rádio digital a
ser adotada por outros países, segundo o representante da Associação
Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), André Trindade. “Nossa
dimensão continental e a diversidade de nosso relevo pode resultar na
apresentação de soluções para outros países da América Latina”, disse.
“O problema é que o resultado dos testes, até o momento, não
apresentaram uma cobertura adequada, principalmente para cidades de
grande espectro, nem dão segurança ao radiodifusor para apoiar a adoção
de um padrão. Por isso, infelizmente, não apoiamos, ainda, a
digitalização. Mas defendemos que sejam feitos novos testes”,
acrescentou.
Outro ponto levantado pela Abratel é a possibilidade de haver migração
automática do padrão digital para o analógico em situações de perda de
sinal digital. “É importante que o receptor mude para evitar queda da
audiência para a emissora”, disse.
“Falta também capital para investimento a serem feitos pelas emissoras.
Isso poderá resultar na morte de um número imenso de rádios, pois o
custo de migração da AM para a FM será elevado. Precisamos portanto dar
segurança para que criemos um modelo de negócios adequado, com uso de
linhas de crédito”, completou.
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