Maratona de atendimentos, postos de saúde em situação precária e falta
de organização têm marcado a estreia de profissionais do Mais Médicos em
três capitais do Nordeste.
Por outro lado, apesar das longas filas, os pacientes elogiam esses
reforços nos postos de saúde, alguns deles havia meses sem um médico.
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A Folha encontrou esse cenário ao visitar ontem unidades nas periferias de Fortaleza, Recife e Salvador.
Na capital baiana, o médico Ernesto Tironi, 52, pede à reportagem: "Não
sou o salvador da pátria e a nossa conversa não pode demorar", diz,
diante de um corredor lotado de pacientes em fila.
Um deles é a dona de casa Jaciara Almeida, 37, que eleva o tom de voz ao
perceber a presença da reportagem: "Eu ainda não fui atendida. Veja
isso aqui, falta estrutura".
Com mofo e vazamentos, o novo local de trabalho de Tironi precisa de reforma , afirma a própria prefeitura. A promessa é que as obras comecem em outubro: reparos no teto, pintura e troca de móveis.
Apesar dos problemas, o médico afirma que dá para cumprir o objetivo de
32 consultas em oito horas diárias. "A estrutura que você vai encontrar
por aí é parecida, algumas um pouco melhor, algumas um pouco pior."
Clínico geral, ele ouve queixas dos pacientes, pede exames e encaminha o
atendido para especialistas. A maioria dos casos são de febre, diarreia
e pessoas "vomitando ou com dores".
O Mais Médicos foi o caminho encontrado por Tironi para voltar a viver
com a família em Salvador, já que passou os últimos 13 anos rodando de
segunda a quinta por municípios do interior da Bahia.
Em Fortaleza, o primeiro dia do mineiro Isaías Arcanjo, 44, foi de
"improviso". Só de manhã, 15 pessoas passaram por seu consultório.
O posto onde ele está não tem problemas de estrutura, mas faltam
médicos. Das três equipes de Saúde da Família, só uma tinha médico. Sua
chegada só atenuou o deficit.
Arcanjo reclama da desorganização. "Não tenho prontuário. Pedi um papel
em branco para fazer um prontuário. As pessoas precisam de histórico,
elas voltam, tem de acompanhar. Se prescrevo um remédio, tenho que saber
se esse remédio funcionou."
A Prefeitura de Fortaleza informou que está implantando um sistema de prontuário eletrônico em todas as unidades.
VIDA NOVA NA CAPITAL
Ao contrário de Tironi e Arcanjo, Sérgio Veloso, 64, estranhou a
estrutura refrigerada e limpa e a farmácia completa na unidade na zona
leste do Recife, onde a equipe que agora comanda estava sem médico havia
oito meses.
"Nunca vi um posto tão organizado", disse, após dez anos em locais
precários no interior do Estado. Sua queixa é com o transporte: há
poucos ônibus que chegam à periferia onde está trabalhando.
Situação pior é a da unidade de Santo Amaro, região central do Recife,
onde a única médica do programa apresentou atestado médico e nem começou
a trabalhar .
"A gente não tem banheiro funcionando, não tem como enxugar a mão, não
tem nem copo para tomar água. É bronca", disse a enfermeira Cláudia
Araújo, no posto há mais de três anos. O local não tem nem bebedouro.
A Prefeitura do Recife diz que a unidade está na lista para reforma,
"mas que, no momento, há outras unidades que têm prioridade".
Falta de estrutura, filas e desorganização à parte, os pacientes comemoram a chegada dos novos médicos.
Em Salvador, a dona de casa Maria Nilza, 58, diz que já existe uma "boa
melhora no serviço". "Geralmente, é preciso amanhecer o dia aqui para
conseguir uma ficha. Hoje [ontem], foi fácil."
No Recife, a mesma sensação. "Era muito devagar [o atendimento]. Agora
'bora' ver como vai ser. O pessoal comenta que deve melhorar", disse
Amara Pereira, 62.
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